sábado, 29 de outubro de 2016

Vergonhoso


É difícil ser-se objectivo na análise à exibição de uma equipa quando esta foi fortemente condicionada pela actuação da equipa de arbitragem. Mesmo assim tentarei, mas não sem antes comentar um pouco sobre o grande feito alcançado hoje por João Pinheiro e respectivos auxiliares.

Começando pelo óbvio: o penálti sobre Otávio é claríssimo, só o recém-promovido a árbitro internacional poderá dizer em que teoria se baseou para não o assinalar e ainda ter a desfaçatez de dar cartão amarelo ao jogador do FC Porto por alegada simulação. Foi doloroso ver a forma como João Pinheiro foi avisando e pedido calma aos jogadores da casa falta após falta, após falta, após falta, quando aos dos Dragões o amarelo saía com uma facilidade tremenda. Aliás, aos jogadores do Setúbal bastava-lhes cair para ganharem a faltinha, mas aos portistas ia sendo concedida uma em cada duas. Depois há um detalhe que, para mim, é o mais importante de todos: o tempo de compensação. Na primeira parte João Pinheiro decidiu não dar tempo extra e os jogadores do FC Porto protestaram. O que fez ele? Colocou, de forma prepotente, a mão no bolso como que dizendo que ia começar a distribuir cartões a quem tivesse a ousadia de lhe dirigir a palavra. Na segunda parte aconteceu algo que não tenho memória desde que vejo futebol: uma árbitro a ajudar uma equipa a queimar tempo. Era ver o famalicense a impedir os Dragões de marcarem rápido as faltas porque eram 50 centímetros mais atrás; eram as faltas assinaladas já de forma tardia a favor do FC Porto mesmo que a posse continuasse na posse de um jogador portista; era a palavrinha pedagógica que dava aos jogadores do Vitória de Setúbal sempre que estes cometiam uma infracção; e, o melhor de tudo, foi estar um minuto a tentar convencer Nenê Bonilha a levantar-se porque não ia permitir a entrada da equipa médica, mas vendo que o brasileiro não cedia lá acabou por chamar os médicos da equipa da casa e com isto ajudar a perder três minutos. Juntamos a isto três substituições para cada lado e obtemos quatro minutos de desconto. Isto é especialmente grave quando comparámos os seis minutos mínimos de desconto que existem sempre que Benfica ou Sporting não estão a vencer quando chega o minuto 90. Talvez fosse um pinheiro destes que os de Alvalade procuravam para reforçar a equipa...

Quanto ao FC Porto, é difícil aceitar que não tivessem feito mais para vencer o jogo. Não aceito que não sintam vontade de correr o dobro ao verem que existem forças que deviam ser neutras a ajudar o adversário e custa-me especialmente a engolir que isto se verifique sabendo que o principal rival na luta pelo primeiro havia ganhado na véspera e que se segue um jogo contra eles. Nuno continua a insistir em Herrera como médio-interior direito sem perceber que a equipa fica manca e não é por acaso que vão dando sempre preferência ao flanco onde existe alguém, no caso Otávio, com capacidade de fazer a diferença no um para um. Uma equipa que quer vencer o campeonato não se pode apresentar em Setúbal com tantas cautelas: se Otávio joga de um lado, Brahimi ou Corona têm de jogar no oposto enquanto Danilo e Óliver têm de chegar no centro. Depois é para mim impensável trocar Diogo Jota por Rúben Neves num jogo que está 0-0 e é esta a ultima alteração possível. Para que raio serve Depoitre?

Resumindo, foram dois pontos muito mal perdidos e que podem ser fundamentais para o Benfica. Uma semana antes do Clássico que colocará frente a frente Dragões e Águias, FC Porto e Sporting empataram e viram ambos ser-lhes negado um penálti nos últimos 10 minutos dos respectivos jogos. Na próxima jornada os Encarnados estarão muito mais à vontade sabendo que, aconteça o que acontecer, a liderança não lhes foge. Já os Portistas têm que se habituar à ideia de jogarem pressionados pela possibilidade de ficarem já a oito pontos do primeiro classificado. Dá que pensar.

Vencer em Setúbal com os olhos postos no primeiro lugar


Portugal é este momento um país deslumbrante para a generalidade da comunicação social quando o assunto é futebol. Este Sábado ainda mais, ou não tivesse o Benfica aproveitado a escorregadela do Sporting na Madeira ao vencer em casa o Paços de Ferreira, vitória essa que dá ao actual campeão uma vantagem de seis pontos sobre o segundo classificado. Mas há um problema para toda esta aparente felicidade e descontracção: o segundo classificado não é o Sporting, é o FC Porto.

E é com os olhos postos no primeiro lugar que os Dragões têm de entrar hoje em campo. Os três pontos frente ao Vitória de Setúbal valem a oportunidade de na próxima jornada fazer o Benfica voltar à Terra, aproveitando o Clássico para lhes relembrar que o campeonato não será um passeio como muita gente nos tenta fazer crer. Aliás, os próximos tempos estão longe de ser fáceis para o actual - e provisório, espero - líder do campeonato.

Após aquilo que eu espero seja uma derrota no terreno do FC Porto para os Encarnados, o campeonato será (uma vez mais) interrompido para, primeiro, compromissos das selecções nacionais e, de seguida, para se disputarem os 16-avos-de-final da Taça de Portugal. Após isso começa um ciclo complicadíssimo para o Benfica, não só pela qualidade dos adversários - que, diga-se, escasseou até agora salvo raras excepções - mas também pela quantidade de jogos que serão disputados entre o meio do mês de Novembro e o meio do mês de Janeiro, com especial destaque para Dezembro.

O calendário do FC Porto parece mais acessível - o que nem sempre se verifica, cabe depois à equipa mostrá-lo em campo -, embora também bastante sobrecarregado. E é aqui que não há outra solução: após três anos de seca absoluta, Nuno tem de dar prioridade absoluta ao campeonato. E aqui será importante que o vasto plantel, talvez até vasto demais, dos Azuis e Bancos seja bem aproveitado pelo treinador para que nenhuma competição fica comprometida ainda nesta fase da época.

É importante que o FC Porto saiba capitalizar estas últimas semanas de 2016 para subir ao primeiro lugar e, mais importante, de lá não mais sair.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O caminho faz-se caminhando


É uma daquelas frases feitas e que se enquadra perfeitamente na actualidade do FC Porto. Na apresentação do Relatório & Contas referente à época 2015/2016, Fernando Gomes admitiu que a SAD inflacionou de forma insustentável os salários da equipa de futebol e que existe a obrigatoriedade de inverter essa tendência, não de forma abrupta mas sim faseada. Com isso em mente, o administrador anunciou ainda a existência de um plano com a duração de três temporadas para o fazer.

Olhando para o plantel actual é possível verificar que há muito por onde reduzir os custos. Começando pela baliza - e sem por em causa a qualidade -, é incomportável para um clube português ter um jogador com o salário de Casillas. Que o contrato seja respeitado mas logo que termine se volte a colocar os pés no chão. Nomes como José Sá e Gudiño estarão prontos para a sucessão dentro de duas ou três épocas e, por isso mesmo, têm de ser considerados como candidatos lógicos a esta posição tão especifica. Na defesa a história é semelhante: não faz sentido contratar jogadores tão caos, numa idade tão avançada e já a perder qualidade como aconteceu com Maxi Pereira. A SAD deve considerar a transferência do lateral já no final da presente época - até porque devido à lesão Layún ficou dono e senhor do lugar - e apostar definitivamente em Ricardo Pereira, actualmente emprestado ao Nice. Rafa Soares, também ele emprestado mas neste caso ao Rio Ave, tem de entrar nas contas para 2017/2018 e ser o concorrente de Alex Telles na lateral esquerda. Passando para o meio-campo chegamos ao sector mais problemático. As opções são tantas e ao mesmo tempo tão escassas que nem Nuno foi capaz de decidir com quem ficar acabando por ficar com todos. Danilo, Rúben Neves, Evandro, Sérgio Oliveira, André André, Herrera, Óliver, Otávio e João Carlos Teixeira são os nove candidatos às quatro vagas abertas no centro do terreno para o 4-4-2 portista. Com Danilo, Óliver e Otávio de pedra e cal restam seis opções para uma posição. Com a existência de equipa B no clube esta situação é absolutamente desnecessária e por isso é imperial que o número de médios seja reduzido já em Janeiro. Emprestar João Carlos Teixeira e vender Evandro (tapado pela concorrência) e Herrera (nunca lhe reconheci valor para jogar no FC Porto mas diz-se que tem muito mercado) são opções lógicas para aliviar as finanças. Chegando ao ataque há dois nomes que saltam imediatamente à vista como sendo dispensáveis: Varela e Adrién Lopéz. O internacional português é uma sombra do que foi no passado há já muito tempo que deixou de ter a qualidade necessária para continuar no grupo. Já o avançado espanhol nunca chegou a fazê-lo e continua a mostrar que foi um erro de casting, já para não falar que é um dos jogadores mais caros do plantel.

Estes são apenas algumas das opções que treinador e SAD podem tomar em conjunto para que o FC Porto comece a desbravar caminho rumo a uma folha salarial saudável sem que para isso enfraqueça a equipa. Nos próximos dias analisarei que jogadores actualmente emprestados a outros emblemas devem ser encarados por Nuno Espírito Santo como potenciais reforços a curto prazo e qual deles devem entrar directamente para uma lista de atletas a vender pelo clube.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Uma equipa em construção


Apesar de a época ainda estar curta - o FC Porto fez apenas 14 jogos oficiais até ao momento - Nuno Espírito Santo já provou ser um treinador versátil, tendo para isso recorrido a vários sistemas tácticos e configurações diferentes em todos os sectores. O que não é necessariamente uma coisa boa, entenda-se. No entanto foi de todas estas trocas e testes que nasceu aquele que, neste momento, está muito próximo de ser o onze ideal dos Dragões.

Baseado-se num 4-4-2, Nuno tem o ataque fechado com André Silva e Diogo Jota; na defesa reside apenas a dúvida entre Maxi e Layún, uma vez que Felipe, Marcano e Alex Telles têm o lugar seguro; Casillas parece não estar disposto a ceder o lugar a José Sá; restando apenas o meio-campo, onde Danilo, Óliver e Otávi têm estado em destaque. Feitas as contas sobra uma posição que tem levantado mais dúvidas: a de médio interior direito.

Desde a implementação do meio-campo a quatro elementos já vários jogadores passaram pelo vértice direito do mesmo. André André numa primeira fase, seguindo-se Brahimi e Corona e, mais recentemente, Herrera. Qualquer um deles trouxe defeitos e virtudes próprios para a equipa, mas nenhum deles conseguiu dar tanto ao treinador como aos adeptos as garantias de que era o homem certo para aquele lugar especifico. Felizmente para Nuno ainda existem variadíssimas opções para a posição. Só entre os médios presentes no plantel ainda podem ser testados no onze jogadores como Sérgio Oliveira, Rúben Neves, Evandro e João Carlos Teixeira, aos quais podemos juntas os polivalentes Varela e Layún. São dez atletas a gladiarem-se por um lugar numa equipa cada vez mais delineada na cabeça do treinador.

Se tivesse que aposta em alguém seria em Layún. Com a chegada de Maxi o treinador recuperou aquele que foi o primeiro lateral-direito que escolheu nos primeiros jogos da temporada e, em simultâneo, a hipótese de adiantar o mexicano para um lugar deficitário no onze. Recorde-se que Layún e Alex Telles têm sido preponderantes na manobra da equipa, o que pode forçar Nuno a ser criativo para introduzir o internacional uruguaio de novo nas primeiras escolhas. Quem sabe se não será graças a este "problema" que o FC Porto encontrará o onze ideal?